Dica de férias:
10 contos para você ler em
menos de 20 minutos
A revista Nova
Escola selecionou textos imperdíveis da literatura brasileira e nós repassamos para vocês. Em poucos
parágrafos, a história apresenta seu início, meio e fim.
Confira o início de cada conto e eleja uma leitura rápida para suas
férias.
1 - Bruxas não existem, de Moacyr
Scliar
Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo
maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova
para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha
caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a
chamávamos de "bruxa". (...)
2 - Um problema difícil, de Pedro
Bandeira
Era um problema dos
grandes. A turminha reuniu-se para discuti-lo e Xexéu voltou para casa
preocupado. Por mais que pensasse, não atinava com uma solução. Afinal, o que
poderia ele fazer para resolver aquilo? Era apenas um menino!
Xexéu decidiu falar com o pai e explicar direitinho o que estava acontecendo.
(...)
3 - Amplexo, de Marcelo
Alencar
Mãe, me dá um amplexo?
A pergunta pega Cinira desprevenida. Antes que possa retrucar, ela nota o
dicionário na mão do filho, que completa o pedido:
- E um ósculo também. (...)
4 - Aprendizagem, de Flávio
Carneiro
- Mãe, cabelo demora quanto tempo pra crescer?
- Hã?
- Se eu cortar meu cabelo hoje, quando é que ele vai crescer de novo?
- Cabelo está sempre crescendo, Beatriz. É que nem unha.
A comparação deixa a menina meio confusa. Ela não está preocupada com unhas.
(...)
5 - Moinho de Sonhos, de João
Anzanello Carrascoza
A mulher e o menino
iam montados no cavalo; o homem ia ao lado, a pé. Andavam sem rumo havia semanas, até que deram numa aldeia à beira de um rio, onde as oliveiras
vicejavam.
Fizeram uma pausa e, como a gente ali era hospitaleira e a oferta de serviço
abundante, resolveram ficar. (...)
6 - Pontos de vista, João
Anzanello Carrascoza
Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português quando
estourou a discussão.
- Esta história já começou com um erro - disse a Vírgula.
- Ora, por quê? - perguntou o Ponto de Interrogação.
- Deveriam me colocar antes da palavra "quando" - respondeu a
Vírgula.
- Concordo! - disse o Ponto de Exclamação. - O certo seria: "Os sinais de
pontuação estavam quietos dentro do livro de Português, quando estourou a
discussão". (...)
7 - O caso do espelho, Ricardo
Azevedo
Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho
pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois
gritou, com o espelho nas mãos:
- Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui? (...)
8 - O primeiro beijo, de Clarice
Lispector
Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos
andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você
nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.
- Quem era ela? - perguntou com dor.
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer. (...)
9 - Uma vela para Dario, de Dalton
Trevisan
Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobra a esquina, diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na
calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre a boca,
move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve
sofrer de ataque. (...)
10 - A cartomante, de Machado de
Assis
Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira d e
novembro de 1869, quando este ria dela por ter ido na véspera consultar uma
cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
- Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e
que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que
era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma
pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas,
combinou-as e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse,
mas que não era verdade... (...)